CARTAS DO ALFREDO
“No dedo um falso brilhante, brincos igual ao colar E a ponta de um torturante band-aid no calcanhar”
( Aldir Blanc)
Meia Palavra Basta
(Duas Cartas femininas)
Alfredo,
Eu poderia dizer o quanto tudo mudou depois que você partiu. Poderia contar que a Lady Di não late mais desesperadamente para a porta, porque sabe que não existe mais sua chegada. Que nossa Cat anda pelos cantos distraída, sem encontrar o apetite perdido. Que o Tigrinho dorme sem parar na caminha que você fez pra ele no Natal. Como fez aquela árvore linda, com o galho que achamos em Friburgo, no verão em que a gente se amava tanto que até doía. Lembra?
E como a gente ria. Como tudo era tão especial.
Eu poderia falar das nossas viagens inesquecíveis, das fotos dormindo estranhas nos álbuns inúteis. E daquelas outras que fizemos no nosso quarto, ouvindo a chuva na vidraça, pensando que o amor nunca se quebraria.
Eu queria dizer que estou inteira a sua espera. E que o vento ainda canta na varanda a música de nós dois. Que os CDs dormem apagados, sem razão, depois que você partiu.
E que as roupas no armário da memória pesam tanto que não cabem no meu coração. Poderia falar das lágrimas guardadas. Da imensa dor que me atordoa. Dos mil pequenos nadas que vivemos. Dos mil imensos tudos que perdemos.
Mas para bom entendedor, meia palavra basta:
Vol
************
Alfredo,
Se você pensa que estou sofrendo depois que você partiu, pode tirar seu cavalinho da chuva. As olheiras são por causa do cachorro que não me deixa dormir, latindo desesperadamente para a porta, a espera da sua chegada farra costumeira. Emagreci dez quilos porque não preciso mais fazer aquela comida gordurosa que você adorava e posso experimentar essas saladas deliciosas, nunca antes permitidas aqui em casa.
Estou usando de novo a mini-saia indecente e o biquíni cavado que escondi no armário, mentindo ter jogado no lixo. Lembra do português que me entregava o pão de graça e seu ciúme me fazia devolver depois, morta de culpa? Precisa ver como me segue na padaria. E os outros então? Em frente ao botequim da esquina já nem passo mais para preservar minhas pernas e a minha bunda da intensidade com que me devoram aqueles olhares masculinos.
Adoro esta cama vazia onde me espalho, sem seu ronco me acordando às cinco da manhã e deixando cansada o dia todo. Acabaram, misteriosamente, os telefonemas na madrugada, o respirar feminino do outro lado e o mentiroso dizendo sempre que era engano. Eu, tonta, fingindo acreditar porque era mais fácil e porque amava tanto.
Lembra da pia que você quebrou no dia do meu aniversário, quando não quis chamar o bombeiro “porque essas coisas eu mesmo resolvo “ e que ficou tão torta que nunca conseguia segurar o sabonete? Era nossa “pia de Pisa” você gostava de brincar. Depois trouxe flores e uma caixa de bombons que dei pro gato porque estava de regime há dois meses e o “ eterno romântico” esqueceu.
Você sempre estragava os melhores momentos.
Como quando acertou no milhar do avestruz, gastando todo o dinheiro pra me comprar um colar que eu nunca pude usar. E aquela sonsa da Luzia ganhou um igualzinho de um “namorado misterioso”... .
Pois consertei a pia, vendi o colar e dei entrada naquele Fiat de segunda mão do seu Antero que a gente sempre namorava na garagem.
Agora vem chorar que está arrependido e quer voltar. Pede perdão e tudo, diz que a sem-graça da Laurinda nem me chega aos pés.
O Alibabá me trouxe seu recado, pedindo resposta urgente.
Estou respondendo, coração
Pra bom entendedor, meia palavra basta:
Fod!
“No dedo um falso brilhante, brincos igual ao colar E a ponta de um torturante band-aid no calcanhar”
( Aldir Blanc)
Meia Palavra Basta
(Duas Cartas femininas)
Alfredo,
Eu poderia dizer o quanto tudo mudou depois que você partiu. Poderia contar que a Lady Di não late mais desesperadamente para a porta, porque sabe que não existe mais sua chegada. Que nossa Cat anda pelos cantos distraída, sem encontrar o apetite perdido. Que o Tigrinho dorme sem parar na caminha que você fez pra ele no Natal. Como fez aquela árvore linda, com o galho que achamos em Friburgo, no verão em que a gente se amava tanto que até doía. Lembra?
E como a gente ria. Como tudo era tão especial.
Eu poderia falar das nossas viagens inesquecíveis, das fotos dormindo estranhas nos álbuns inúteis. E daquelas outras que fizemos no nosso quarto, ouvindo a chuva na vidraça, pensando que o amor nunca se quebraria.
Eu queria dizer que estou inteira a sua espera. E que o vento ainda canta na varanda a música de nós dois. Que os CDs dormem apagados, sem razão, depois que você partiu.
E que as roupas no armário da memória pesam tanto que não cabem no meu coração. Poderia falar das lágrimas guardadas. Da imensa dor que me atordoa. Dos mil pequenos nadas que vivemos. Dos mil imensos tudos que perdemos.
Mas para bom entendedor, meia palavra basta:
Vol
************
Alfredo,
Se você pensa que estou sofrendo depois que você partiu, pode tirar seu cavalinho da chuva. As olheiras são por causa do cachorro que não me deixa dormir, latindo desesperadamente para a porta, a espera da sua chegada farra costumeira. Emagreci dez quilos porque não preciso mais fazer aquela comida gordurosa que você adorava e posso experimentar essas saladas deliciosas, nunca antes permitidas aqui em casa.
Estou usando de novo a mini-saia indecente e o biquíni cavado que escondi no armário, mentindo ter jogado no lixo. Lembra do português que me entregava o pão de graça e seu ciúme me fazia devolver depois, morta de culpa? Precisa ver como me segue na padaria. E os outros então? Em frente ao botequim da esquina já nem passo mais para preservar minhas pernas e a minha bunda da intensidade com que me devoram aqueles olhares masculinos.
Adoro esta cama vazia onde me espalho, sem seu ronco me acordando às cinco da manhã e deixando cansada o dia todo. Acabaram, misteriosamente, os telefonemas na madrugada, o respirar feminino do outro lado e o mentiroso dizendo sempre que era engano. Eu, tonta, fingindo acreditar porque era mais fácil e porque amava tanto.
Lembra da pia que você quebrou no dia do meu aniversário, quando não quis chamar o bombeiro “porque essas coisas eu mesmo resolvo “ e que ficou tão torta que nunca conseguia segurar o sabonete? Era nossa “pia de Pisa” você gostava de brincar. Depois trouxe flores e uma caixa de bombons que dei pro gato porque estava de regime há dois meses e o “ eterno romântico” esqueceu.
Você sempre estragava os melhores momentos.
Como quando acertou no milhar do avestruz, gastando todo o dinheiro pra me comprar um colar que eu nunca pude usar. E aquela sonsa da Luzia ganhou um igualzinho de um “namorado misterioso”... .
Pois consertei a pia, vendi o colar e dei entrada naquele Fiat de segunda mão do seu Antero que a gente sempre namorava na garagem.
Agora vem chorar que está arrependido e quer voltar. Pede perdão e tudo, diz que a sem-graça da Laurinda nem me chega aos pés.
O Alibabá me trouxe seu recado, pedindo resposta urgente.
Estou respondendo, coração
Pra bom entendedor, meia palavra basta:
Fod!
Eu sinto saudade destas cartas de amor do Alfredo.
ResponderExcluirEu sinto falta das suas letras.
Eu sinto falta de mim e de vc.
bjosssssssssssssss
Pobre Alfredo, sempre incompreendido. Também, quem mandou amar aquela mulher. Bem que eu lhe disse que ele estava arrumando sarna para se coçar.
ResponderExcluirAinda bem que quanto maior é a dor, maior é o trago.